Atualmente, com a profusão dos celulares, uma câmera fotográfica é um instrumento bastante comum. Talvez para a maioria dos seus usuários, a câmera de um celular pode parecer bem diferente das câmeras fotográficas mais elaboradas. O que torna estes dois equipamentos similares, é o fato de que as duas registram imagens em um sensor. Mas a câmera de um celular, parece ser muito mais simples do que uma câmera profissional.
No entanto uma câmera mais simples, consiste de uma cavidade escura com um único buraco na entrada, e no lado oposto ao buraco dentro da cavidade é colocado um aparato na qual é formado uma imagem (invertida). O aparato pode ser um filme, um sensor eletrônico ou uma simples folha translúcida.
E esta simples câmara possui praticamente todos os elementos de uma câmera mais moderna, sendo que o buraco funciona como a lente. Para entender o funcionamento dela como lente, para uma explicação inicial basta utilizamos a ótica geométrica (que considera os raios de luz como propagando em linha reta, sem considerar o seu comportamento ondulatório).
Mas como seria uma câmera pinhole? Bem a forma mais simples é pegar uma lata, fazer um furo e pintar a parte interna com tinta preta fosca. Para fazer um buraco pequeno, o melhor é fazer um furo com a ponta de uma agulha em um pedaço de lata de alumínio. (As instruções para construir uma câmera de pinhole, serão postadas em um outro texto, mas é possível encontrar diversos sítios da internet que ensinam como fazer uma destas câmeras, por exemplo em
manual do mundo )
Um objeto ao ser iluminado (por exemplo pelo Sol), reflete essa luz para todas as direções, e alguns destes feixes de luz acabam chegando até a câmera pinhole, entrando pelo pequeno buraco, até atingir o fundo da câmera aonde está o filme (vamos usar o termo filme, mas pode ser qualquer coisa onde a imagem é formada), formando uma imagem invertida do objeto. A próxima figura, ilustra este processo (figura de domínio público, disponível em https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pinhole-camera.png ), onde está representado apenas dois raios de luz, uma saindo do topo da árvore e outro da sua base.
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Figura 1. A camêra pinhole. Fonte wikipedia, licença Creative Commons |
Por que necessitamos de um buraco pequeno? Se pensarmos em uma janela de um quarto, não conseguimos perceber nenhuma imagem na parede oposta. A razão são duas: muita luz e o tamanho da janela. Mas mesmo que todo o quarto fosse escuro, não veríamos uma imagem projetada na parede. Uma possibilidade seria a de usar um quarto com persianas bem opaca, com um pequeno buraco (se for fazer isso em casa, não esqueça que está estragando a persiana). Neste caso, seria possível ver a imagem projetada na parede. Então o tamanho do buraco é importante para que possamos ver a imagem projetada.
Na figura 2 a seguir, ilustramos a influência do buraco na formação da imagem. No caso de um buraco grande (imagem (a), na esquerda) , os raios de luz que saem da parte superior, atingem o fundo formando uma região grande, o que torna a imagem bem borrada. Ao reduzirmos o tamanho do buraco (ver a imagem (b), na direita ), atingem o fundo formando uma região pequena. Então pela ótica geométrica, quanto menor o buraco, melhor seria o resultado da imagem obtida.
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Figura 2. Efeito do tamanho do buraco na imagem projetada. |
Notemos que se afastarmos o plano onde a imagem é formada (figura 3, o plano B está mais afastado do que o plano A ) a imagem pode ficar novamente indistinguível.
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Figura 3. Efeito de deslocar o plano da imagem. |
A figura 3 nos ajuda a entender o que significa "pequeno buraco". O diâmetro deve ser pequeno em relação à distância entre o furo e a superfície na qual a imagem será projetada.
A figura 4, do artigo de
Fernando Lang e Ronaldo Axt , que trata da formação de imagens em um espelho plano, é uma ilustração de como os raios provenientes de duas regiões distintas, formam a imagem, que é invertida.
Na hipótese de termos um buraco muito grande, as duas regiões ficariam superpostas, e não teríamos uma imagem bem definida.
Com a construção das figura 3 e 4, podemos imaginar que de acordo com a ótica geométrica, quanto maior a distância entre o furo e o plano aonde é formado a imagem, menor deve ser o buraco. E portanto, reduzindo o seu tamanho obteríamos imagens melhores.
No entanto isto não é correto. Ao diminuirmos o tamanho do buraco, existe um limite mínimo aceitável para a formação da imagem. A partir de um certo diâmetro do buraco, os efeitos de difração da luz (um efeito devido ao comportamento ondulatório da luz) passam a ser importante e precisamos considerar a luz utilizando a ótica física, não a ótica geométrica.
Assim, do ponto de vista da ótica geométrica, quanto menor o buraco, melhor a imagem obtida, mas pelo ponto de vista da ótica física, quando menor o buraco , pior fica a imagem (De uma maneira simples, se o diâmetro do buraco for muito maior que o comprimento de onda da luz, os efeitos da difração ficam desprezíveis, apenas a partir de um certo diâmetro o efeito da difração passam a ser importante). Estes dois efeitos devem ser levados em consideração no desenho de uma câmera de pinhole. (O comportamento específico da cada um dos efeitos não são semelhantes, para maiores detalhes, ver o artigo M.Young 1989.)
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Figura 5. Retirado de M. Young, 1989 |
A figura 5, retirado do artigo de Young, mostra o raio da imagem formada em função do raio do buraco de agulha. A reta representa a condição da ótica geométrica e a hipérbole a condição da ótica física (considerando a luz como uma onda). A região ideal é na intersecção das duas curvas.
Para um projeto completo de uma câmera pinhole, é necessário conhecer também o tamanho da imagem a ser produzida, a distância do furo até o plano da imagem , e naturalmente o diâmetro do furo. Com estas informações, podemos calcular o que chamamos de f-stop da pinhole. Normalmente o f-stop é bem elevado, sendo comum valores próximos de 200 ou maiores. Para quem não sabe o que é f-stop, em um texto futuro, vamos escrever com mais detalhes sobre o que é o f-stop e seus efeitos para a fotografia. Mas basicamente está relacionado com a quantidade de luz que atinge o sensor, quanto maior o número, menor a quantidade de luz. Em câmeras comuns, dependendo da lente utilizada este valor pode variar de 1.2 (ditas lentes claras ou lentes rápidas) até cerca de 22. No momento o que nos interessa é que com uma câmera pinhole, entra muita pouca luz comparativamente a uma câmera comum. Por outro lado, temos uma grande profundidade de foco. Isto significa que tudo que for fotografado com uma câmera pinhole, estará em foco. No entanto, a imagem de uma pinhole possui uma resolução muito menor que uma câmera comum com lente (tipicamente uma pinhole tem uma resolução de algumas linhas por mm, enquanto uma câmera comum tem uma resolução de algumas dezenas de linhas por mm, ver M. Young 1989), de forma que a imagem vai se assemelhar com as obtidas usando as lentes ditas "soft focus".
E como fica uma imagem de uma câmera pinhole? A próxima imagem é um exemplo de imagem possível. A distorção ocorre devido ao formato curvo do local onde o filme foi colocado. A imagem original é em negativo, e a imagem da figura 6 já é invertida, isto é, transformada em imagem positiva.
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Figura 6. Exemplo de imagem obtida com câmera pinhole. |
O efeito da superfície na qual o filme é colocado, pode ser percebido, comparando com uma imagem obtida com uma câmera com fundo plano, que apresentamos na figura 7.
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Figura 7. Exemplo de imagem com o filme em uma superfície plana. |
Para quem tiver interesse em construir uma câmera pinhole, um sitio interessante para dar uma olhada no site
https://www.mrpinhole.com/calcpinh.php , onde é possível obter informações sobre o tamanho do buraco ideal para a sua câmera pinhole.
Referências
M. Young, The pinhole camera,Physics Teacher, 27: 648–655, 1989